Ciclo da Borracha


A vida em Belém, no final do século 19, era deslumbrante. No porto da cidade era comum atracar navios carregados de vinhos portugueses, queijos franceses, alfaiataria italiana e serviçais como mordomos e costureiras europeias. A cultura, por exemplo, vivia a sua melhor época, com diversos espetáculos e exposições. A capital do Pará se inspirava na Belle Époque francesa e se orgulhava de ser chamada de ‘Paris Tropical’.

O látex era o responsável por toda essa prosperidade e fortalecimento da economia regional e nacional. A extração do produto se iniciou em meados do século XIX e alcançou o seu apogeu no início do século XX – os historiadores chamam o período de ciclo da borracha.

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O impulso econômico mudou a aparência da cidade e alguns costumes dos habitantes. Viver em Belém ficou caro – a elite e os governantes queriam, a todo custo, copiar a estética de cidades como Paris e Londres. As ruas foram alargadas, edifícios foram construídos e aos poucos os hábitos tradicionais da sociedade belenense iam sendo empurrados para o interior do estado.

Como a região amazônica era o único local de produção, foi natural que, os capitais conseguidos com a matéria-prima financiassem a urbanização de cidades, como Belém e Manaus. Na capital do Pará, os royalties possibilitaram a construção de bulevares, a instalação de iluminação pública, a introdução de bondes elétricos, água encanada, energia elétrica, assim como a criação do centro comercial e do mercado municipal. Quanto a capital do Amazonas, o destaque ficou para a construção do porto e do teatro da cidade.

A prosperidade econômica também trouxe consigo os primeiros bancos, financiadoras, exportadoras e inúmeros imigrantes (italianos, belgas, árabes e franceses), além de muitos nordestinos.

No outro lado do ciclo da borracha não havia muito luxo e nem glamour. Os seringueiros trabalhavam dia e noite, expostos a um calor intenso e a uma série de doenças. Vestiam roupas simples e carregavam consigo um facão e uma ‘marmita’ – a quantidade suficiente para não morrer de fome. Isolados na floresta, os trabalhadores braçais aumentaram a produção de látex de 156 para 31 mil toneladas, em pouco mais de 30 anos.

ciclo-borrachaEnquanto o Brasil se tornava no maior fornecedor de borracha de mundo, os países ricos já demonstravam interesse na Amazônia. O principal objetivo era descobrir novos, e claro, lucrativos, usos para plantas exóticas. Numa dessas expedições estrangeiras, o inglês Henry Wickham enviou à Inglaterra inúmeras sementes de seringueira. Não demorou muito para que a riqueza de Belém trocasse de mãos.

A seringueira não era uma árvore de fácil cultivo. Por conta de tal dificuldade, os brasileiros deram preferência ao extrativismo, que possuía um custo muito abaixo da ‘colheita responsável’. Com o avanço da indústria automobilística, os principais produtores (europeus e americanos) precisavam de cada vez mais da matéria-prima.

Enquanto o Brasil insistia na prática extrativista e não mais dava conta da demanda de exportação, os britânicos investiam em plantações no continente asiático. Com o sucesso do cultivo na Ásia, somado ao crescente uso da borracha sintética, a exploração da seringueira na região norte – embora, até os dias de hoje, a pratica faça parte da economia da região – diminuiu significativamente.